quinta-feira, dezembro 29, 2005

Retrospectiva


Perdi-te tantas vezes em silêncio...
E em segredo te pedia que voltasses.

Quantas vezes te sonhei como tu eras...
[e o pavor que tinha que o não fosses!...]

Tantas vezes em teu corpo naveguei...
[e quantas, ancorado, naufraguei!]

E afinal, tu sempre foste
A derradeira brasa na fogueira...

Só faltavam as Palavras, leves sopros
Que te deixassem, outra vez,

Reacender.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Caminhos


Tenho em mim todos os portos
Todas as estradas, todos os comboios
Cidades, campos, os olhos que me fitam
Os cafés onde passei...
As vozes de quem sonhei...

Tenhos em mim a dor de amar
E a angústia de sorrir
A frustração de tentar na ânsia de conseguir.

Todas as luas, todas as marés
Todas as conversas à mesa dos cafés.


Cada beijo, flor, sorriso
Lágrimas, inferno, paraíso e cada
(a)deus, cada silêncio que pesa e o alívio de saber
Que as noites tristes não duram nunca
Sempre.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Crónica de um natal passado










Pois é, amigo, companheiro de copos e de lutas
Virá outro Natal, como este agora,
Com a alegria frágil de quem chora?

Está na hora de sentares e de ouvires
O que a irmã Vida tem para dizer
O corpo é frágil, mas as cordas que ressoam
(Essas, nunca hão-de arder!)

Quando fores apenas mais um, como eu, Irmão
Quando não puderes já pensar em acender
O teu cigarro no meu...

Quando as Luas e Marés forem passando
Sem que tu sem reparar passes por elas
Só aí saberás o que é Viver.

domingo, dezembro 25, 2005

“Porque o único sentido oculto das coisas é elas não terem sentido oculto nenhum..."



Deambulo pelas ruas mudas de gente calada e penso. Penso e nada sei. Quanto mais me aproximo das verdades do Grande Plano mais longe delas fico. Move-me uma força frágil, que abana a cada suspiro do vento quente, abafador. Vagueio pelos cafés, no ritual eterno de quem procura saber o interdito, conhecer o que há para além dos passos decididos que não me levam a lado algum, para além das noites acordado em que o cérebro não consegue adormecer, para além dos dias em que o corpo não consegue acordar. A falta de espírito matemático não me permite resolver a equação da vida. Talvez por ter demasiadas incógnitas para uma equação só. A vida, a morte, o amor, a existência, o pensamento. Os cafés enchem-se de gente, e a desmesurada e inacabável bebedeira do sentir e do pensar apodera-se-me da mente. Sinais de fumo balançam sobre as mesas dos cafés… Fumo… Sinais… Falando sem dizer nada, corpos adormecem… Falar… Dizer… Adormecer… Para tornar a acordar?
De um amontoado de pensamentos atordoados pela raiva, pela estúpida compaixão, pelas falsas esperanças, sobra-me o consolo da arte, da inverosímil explicação das coisas e das pessoas. Toco a Serenata ao Luar. Uma mulher chora, como se tivesse visto no universo dos sons a revelação do mundo. Como se encarnasse momentaneamente no espírito de quem toca. De olhar embaciado, fixa na imensidão bicolor das teclas do piano, chora. Correm-lhe lágrimas, a par e par pela face, de mãos unidas como quem se encontrou com o Supremo Arquitecto num plano superior. Toco, envolto numa aura de grandiosa elevação do espírito, em cada nota imprimo uma dor, um sorriso, toda a futilidade da razão humana. Percorro com os olhos as linhas da pauta, que vai chegando ao fim, e ao levantar do pedal perde-se o som, esvai-se pelo nada que é tudo. Dou-me conta da efemeridade da vida, de tudo o que nos povoa a mente e a imaginação. Restam as lágrimas de uma mulher que chora tudo o que foi e tudo o que nunca será.


2004-06-16

Outros sons...


"Vivemos imersos num oceano de sons... vozes, ruídos, a Música e as músicas... Os telefones chamam, as buzinas alertam, os motores roncam... e no meio da azáfama do fazer não nos ouvimos pensar. Olhar p'ra dentro é também descobrir o mundo... é ouvir outros sons...